Negócio
Edifícios que não consomem energia? Sim, é possível.
Os edifícios de energia zero, ou edifícios com energia líquida zero, são edifícios autoalimentados. Por outras palavras, não necessitam de um fornecimento de eletricidade para as suas necessidades energéticas, porque eles próprios geram toda a energia que consomem.
Apesar de o conceito deste tipo de edifícios não ser novo (os edifícios pioneiros que utilizam a energia solar na sua arquitetura datam de 1977), a sensibilização social e política é o que tornou estes edifícios uma realidade, atualmente, e o que fará com que se tornem uma forma de construção obrigatória no futuro. A primeira casa de energia zero foi construída por Torben V. Esbensen e Vagn Korsgaard para a Universidade Técnica da Dinamarca. Tratava-se de uma casa que podia ser aquecida durante todo o inverno utilizando apenas energia solar.
O primeiro desafio a ultrapassar para que um edifício seja verdadeiramente de “energia zero” é o que se designa por “retorno energético da energia investida (EROEI)“. O EROEI é o rácio que calcula a quantidade de energia gerada por uma determinada fonte de energia em comparação com a quantidade de energia utilizada para construir essa fonte de energia. Em alguns casos, esta comparação tem em conta não só o custo de construção da fonte de energia, mas também o custo da sua conceção, fabrico e manutenção.
Casa Passiva – A construção com foco na poupança energética
De origem alemã, Passivhaus (casa passiva ou passive house) apresenta-se como um conceito construtivo emergente a nível mundial e que tem vindo a ser alvo de crescente interesse por parte dos consumidores, muito devido ao seu desempenho energético.
As casas “passivas” evocam princípios e metodologias de construção que se traduzem numa redução do consumo de energia de cerca de 80% em relação aos edifícios tradicionais.
A passivhaus é uma norma de construção desenvolvida pela primeira vez em 1988 com o objetivo de construir casas e escritórios com uma classificação energética quase “zero”, através da utilização de diferentes técnicas. Estas técnicas são, essencialmente, as seguintes:
- Excelente isolamento térmico, que será coerente com o clima da zona em que a casa está localizada.
- Portas e janelas de alta qualidade, uma vez que as aberturas térmicas são os pontos fracos da envolvente de um edifício.
- A minimização da perda de calor através destas áreas significa que as necessidades energéticas serão significativamente reduzidas.
- Ausência de pontes térmicas. Basicamente, uma ponte térmica é uma conduta física (como uma viga) que está exposta a diferentes temperaturas. A viga irá provocar fugas de calor no inverno e de ar mais frio no verão, causando assim perdas de energia.
- Ventilação ativa com recuperação de calor, como o calor do corpo ou do equipamento elétrico nos escritórios.
- Isolamento ao ar, para que não existam lacunas ou fissuras que criem correntes de ar devido a diferenças de temperatura. O ensaio Blower Door, ou de porta ventiladora, mede o grau de isolamento de uma divisão.
Os edifícios que obedecem a estas características são construídos na Alemanha desde 1990 e, lentamente, têm-se estendido à Áustria, Inglaterra, Espanha, França, EUA e também Portugal.
Inovação surpreendente
Mas hoje em dia já estamos a assistir a ideias inovadoras, muito para além de meros melhoramentos dos métodos de construção tradicionais, que podem parecer extravagantes e futuristas agora, mas que se tornarão sem dúvida parte integrante da construção no futuro. Algumas destas ideias já foram postas em prática.
Um bom exemplo é o Museu Kunsthaus em Graz (Áustria) que, visto do ar, parece totalmente deslocado no meio da paisagem tradicional da cidade. A sua construção globular e orgânica assemelha-se a uma bolha gigantesca no meio desta pequena cidade de telhados vermelhos inclinados. Trata-se de um edifício equipado com 1288 painéis fotovoltaicos em acrílico semi-transparente que produzem toda a energia de que o edifício necessita.
O World Green Building Council (WorldGBC) também atua nesta área, de forma inovadora. Este organismo promove a adoção de ambientes construídos sustentáveis e descarbonizados. Trabalham com empresas, organizações e governos para concretizar as ambições do Acordo de Paris e os Objectivos Globais das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável. Através de uma abordagem de mudança de sistemas estimulam a mudança de mercado e defendem as melhores práticas para cumprir os objectivos de descarbonização e sustentabilidade para 2030 no setor da construção.
A empresa Carmo Wood é outra referência interessante na utilização de materiais alternativos sustentáveis. A empresa anunciou recentemente a entrada no mercado de construção para habitação em CLT (Cross-Laminated Timber). O CLT, segundo a empresa portuguesa especialista em madeira tratada, é um material inovador conhecido como o “novo betão sustentável”, composto por painéis de madeira maciça colados e prensados em camadas cruzadas.